domingo, 5 de setembro de 2010

Sem título

O calor do corpo ainda incendeia corações
Mas o coração gelado começa seu estado de letargia
Para em seu despertar ressonar pelos horizontes
Mais forte como nunca
A floresta dourada que cobre a pele alva e quente
Quebra o gelo o olhar castanho avermelhado
Dando ao ser uma tonalidade única
A fênix que habita os olhos
Já não desfalece em cinzas
Mas queima com seu calor
Constante
Incessante
Incendiante
Que pode machucar com ardor
Ou encantar com amor
Cabe a quem contempla os tons enferrujados
Decidir como atiçar as chamas
A ártica mente calculista
Maquina com cuidado
Mas sem deixar de lado
A agilidade
Letal e precisa como o ferro perfurante
Das lanças prateadas que habitam os pulsos
Carregadas com tétano assassino e brando
Os lábios naturalmente rubros
Contrastam na pele esbranquiçada
Libertam uma serpente traiçoeira
Que visita cavernas e dança
Entre estalagmites e estalactites úmidas
Da fonte incessável em que habita a serpente alheia
Onde se encontram e se entrelaçam em
Glamurosos gestos de prazer
A enguia eu vive na floresta de algas douradas
Desperta com o simples toque convidativo
A explorar novos horizontes
Geralmente cavernosos
Mas tratando-se de uma enguia
Tudo pode acontecer
Os troncos alvos que alavancam os passos
São maciços e sua penugem peculiar
Não constam fungos ou traços verdes
Mas são de uma tonalidade castanha mogno
Avermelhada como ferrugem
Brilhante como âmbar
Não sabe o que é, mas acredite
Não se arrependerá ao tentar descobrir
Decifra-o ou devora-te...
Em todos os sentidos

2 comentários:

  1. Sensualmente oriental, métrica bizarra, sem quaisquer cuidado de rimas, simplesmente fluem para ratificar a idéia.
    O que me intriga, uma enguia, ocidentalmente traduzida para uma esfinge, o poder faraônico para o falo... rsrsr
    típico poema do Felipe...
    O poema figura entre a sensualidade e a arte.. não é só sexo, só carne, e de uma delicadeza digna de uma gueixa, provocante e doce.

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  2. Os crespos fios d'ouro se esparziam
    Pelo colo, que a neve escurecia;
    Andando, as lácteas tetas lhe tremiam,
    Com quem Amor brincava, e não se via;
    Da alva petrina flamas lhe saíam,
    Onde o Menino as almas acendia;
    Pelas lisas colunas lhe trepavam
    Desejos, que como hera se enrolavam.

    C'um delgado sendal as partes cobre,
    De quem vergonha é natural reparo,
    Porém nem tudo esconde, nem descobre,
    O véu, dos roxos lírios pouco avaro;
    Mas, para que o desejo acenda o dobre,
    Lhe põe diante aquele objeto raro.
    Já se sentem no Céu, por toda a parte,
    Ciúmes em Vulcano, amor em Marte.

    Camões - Os Lusíadas canto II

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