domingo, 5 de setembro de 2010

AVALON

Apenas um breve trecho do livro Avalon - O Gamo e o Dragão. Saboreiem

Hoje vou contar a história mais aceita por Avalon sobre suas origens. É evidente que um lugar como Avalon possui varias histórias, contos e lendas sobre sua origem, apogeu e queda. Nenhuma está totalmente certa, tampouco completamente errada, são apenas versões diferentes. A que contarei foi baseada nas canções do bardo Hoock, que apesar de ser um bardo, propagou diversas canções sobre Avalon, que normalmente não são pejorativas.


“Como sabem, Avalon surgiu como um templo celta de adoração à deusa Ceridwen, a Mãe Terra, a Grande Porca, o Corvo, o Mensageiro da Morte... Mas nem sempre foi assim. Nos primórdios da civilização celta, havia apenas um deus, o Uno. Não possuía sexo, gênero, raça ou cor, era apenas o grande criador, aquele que tudo cria, transforma e destrói. Não havia conceitos de céu ou inferno, apenas uma leve noção de reencarnação como aprendizado, e depois a vivencia junto ao Uno, não que fosse boa ou ruim, mas apenas um descanso.”


“Tal reverência começou a evoluir, exigindo rituais, como toda religião. À medida que a complexidade dos rituais aumentava, exigia práticas de magia, seu domínio e controle. Controle esse que poucos possuíam.”


“Os celtas começaram a procurar quem tinha o controle mágico para passá-lo adiante, para pessoas que tinham dons mágicos, instruí-los como sacerdotes e continuar o ciclo. Vemos aí os primeiros alunos e professores. Entretanto, cada professor morava em um lugar, tinha sua própria diretriz de ensino e nem sempre ficavam perto dos templos, sendo muito difícil encontrá-los.”


“Foi organizada uma espécie de convenção para decidir um lugar onde os professores pudessem se reunir para ensinar, e os alunos fossem aprender. Mas qual lugar? Precisava ser um local grande pra abrigar a todos, escondido das pessoas comuns, mas de fácil acesso para os alunos. Toda a Bretanha foi vasculhada, em uma cuidadosa e meticulosa busca, e enfim foi encontrado o lugar perfeito. Uma ilha de um lago, localizada em um encontro de pólos magnéticos, uma força tão poderosa que irradiava poder. O Tór se elevando de encontro ao céu além de um pequeno lago dentro da ilha. O melhor é que a ilha ficava muito próxima ao local onde se realizava as fogueiras de Beltane. Essa era a ilha de Avalon. A ilha das maçãs.”

Morgana fez uma breve pausa antes de perguntar:

- Alguém tem alguma dúvida?

Um garoto levantou a mão.

- Fale Antony.

- Bem, todos nós sabemos que a antiga Avalon e esta aqui possui caminhos secretos para acessá-la. Caminhos terrenos. Como isso, se Avalon é uma ilha?

- Muito importante esta questão. É o seguinte, ilha significa, além de pedaço de terra cercado de água, isolamento. Avalon na verdade é uma península. Esses caminhos secretos nada mais são do que o “braço” dessa península. Compreendeu?

- Sim, Minha Senhora, obrigado.

- Mais alguém? Ninguém? Ótimo! Prossigamos. Avalon progredia muito bem, mas por necessidade foram criados os cargos dos sumo-sacerdotes: Merlin e Senhora do Lago. O Merlin devia ser um homem sagrado druida em plenos poderes, dominando os quatro elementos e a arte da guerra no combate corpo a corpo. Devia saber ler e escrever em rúnico e arcaico, dominando a própria língua, a do povo pequeno das tribos e quantas mais quisesse, ou fosse preciso. A Senhora do Lago deveria cumprir os mesmos critérios, mas, além disso, ter o dom da Visão, dominado e controlado.


“Nessa época foram forjadas as quatro Insígnas Sagradas, a representação sólida e física dos quatro elementos; ar, água, terra e fogo. Elas viriam a se tornar os objetos mais poderosos de Avalon. O Ar exigia um objeto leve, poderoso e maleável. Foi confeccionada a Lança, que ataca cortando o ar com precisão e perícia, ferindo o inimigo. A Terra foi representada pelo Prato, pois é no prato que se coloca todos os frutos que a Terra nos dá antes de serem consumidos formalmente. O Cálice ou Copa foi escolhido para a Insígna da Água, pois é em um cálice que é servido a água. É claro que poderia ser um jarro, copo ou taça, mas não ficaria bem tais objetos como uma Insígna sagrada dos druidas. O objeto para representar o Fogo demorou a ser designado. Precisava ser um objeto feito de fogo, que poderia ser usado como arma ou defesa, algo belo, mas usual; algo que jamais poderia der copiado. Uma espada foi forjada, com metais caídos do céu, ou seja, uma cuidadosa liga metálica produzida com o metal vindo de um meteorito. A maioria das pessoas a conhece pelo nome Excalibur ou Caliburn. Pensem na etimologia das palavras CALIBURN; CALL - BURN: chamado do fogo; e EXCALIBUR; EX - CALIX – BURN: cálice do fogo. O EX tem diversos significados: exercício, explorar, extraordinário, explodir... há muitas possibilidades, todas coerentes, mas nenhuma considerada exata.”


“Avalon criou laços com o povo pequeno das tribos, exímios arqueiros que passaram a defender a ilha em troca de suprimentos. O povo pequeno é conhecido por diversas culturas. A maioria das pessoas os chama inocentemente de duendes. Claro, não são tão pequenos, tampouco são verdes ou possuem orelhas pontudas, mas existem, embora sejam muito reservados. Também se aliou ao reino místico e oculto do país das fadas, de onde tirou ervas raras que só existem ali.”


“Alunos e peregrinos vieram trazendo novas religiões e deuses a Avalon. Claro, todas elas tinham uma faceta do Uno como deus supremo, dentre eles Odin e Ceridwen. Aos poucos o templo do Uno em Avalon, tornou-se a casa de Ceridwen. A Deusa era ideologicamente perfeita para Avalon. Representava o bem e o mal, a caça e o caçador, o predador e a presa, o bem e mal, a vida e a morte, o tudo e o nada, a mãe e a filha... e algo importante: era mulher. Deusa. Avalon não é machista. Idolatra o sagrado feminino como nenhum outro lugar. Tanto que a Senhora do Lago está acima do Merlin. Todo homem nasce de uma mulher. Enfim, Avalon prosperou durante anos.”


“No apogeu e esplendor de Avalon, uma nova religião foi apresentada a todo o mundo árabe e europeu: o cristianismo. O cristianismo estava em ascensão constante, propagando sua doutrina simples de amor e paz. Avalon não negou os cristãos, recebeu-os muito bem, mas se recusou a aderir àquela religião. Conforme evoluíam, os cristãos passaram a não tolerar outras religiões, considerando-as hereges. Não perceberam que todos os demais “deuses” nada mais eram que as diversas facetas de seu próprio Deus, os diversos nomes do Uno.”


“Os padres mais exigentes, ao visitar Avalon, viram nossos cultos à Deusa como hereges e adoração ao demônio. E observem: os cristãos só possuem sumo-sacerdotes homens. Não há cargos muito altos para as mulheres. Já Avalon tem os melhores cargos dados às mulheres. No mundo machista, quem prevaleceu foram os cristãos. Como se não bastasse, eles vieram para Avalon tomar posse da ilha. E conseguiram. Mas antes, os avalônios realizaram a manobra que supostamente salvaria Avalon:”


“Dividiram misticamente a ilha em duas partes: uma sólida, terrena e acessível foi “deixada” aos padres; e a outra mística, levando todo o poder e influencias cósmicas, sendo ocultada nas brumas. Essa parte só era acessível por quem conseguisse dissipar as brumas. Nossos elos com o povo pequeno e o País das fadas se fortaleceram como nunca. A versão dos cristãos para esse fato é como uma expulsão dos pagãos da ilha, a destruição dos templos e o queima de toda nossa doutrina. Eles deram um novo nome a Avalon. A ilha das maças de tornou a ilha do vidro: Glastomburry. GLASS - TOMB - BURY. Vidro, túmulos, enterrar. Pode ser GLASS – TOMB – BURNY, representando a queima da nossa religião, num sentido mais doutrinário: “queimamos as bruxas e as enterramos, purificando a ilha, deixando-a limpa como vidro.” É incrível como a versão deles se propagou. Não que estivesse errada, mas nossas fontes dizem outra coisa.”


“Ali foi construído um mosteiro de padres e freiras, a igreja de São José de Arimatéia e uma horta-pomar que os alimentava e aos pobres que ali passavam. Imaginem, os pais de família que antes nos mandavam alunos, ao ver que nossa religião estava sendo suprimida pela igreja dos padres, decidiram enviar seus filhos ao mosteiro, não a nós, “pecadores, hereges maléfico, bruxas”. Perdemos muitos alunos para os padres. Pessoas que realmente poderiam servir à Deusa com afinco. O risco de Avalon se perder nas brumas foi revelado.”

“A era do rei Artur veio e se foi, e com ela, Avalon enfim desapareceu.”

- Mas, Minha Senhora – começou Antony – como estamos aqui hoje? Quem restaurou a religião?

- A resposta é muito simples. A irmã do rei Artur, Morgana. Após a morte do irmão, propagou o culto fora da Bretanha, por diversos pontos da Europa, em regiões onde o catolicismo não era muito forte. Ela ensinou os ritos, as histórias, a hierarquia... Surgiram varias “Avalons” pela Europa, o que garantiu a sobrevivência dos ensinamentos.


- E quanto às Insígnas? – questionou Antony novamente.

- À exceção da espada, que Morgana guardou-a consigo, estavam espalhadas por toda a Europa, sendo às vezes profanadas em rituais católicos. Cerca de cem anos após a morte de Morgana, a espada em poder de germanos, foi realizada uma nova convenção de sacerdotes, onde a custo reuniram as quatro Insígnas. Decidiram fazer uma nova Avalon na Bretanha, uma “matriz”, com os cargos de Merlin e Senhora do Lago restituídos. Toda unidade de Avalon passou a ter Merlin e Senhora do Lago. É claro, nem todas as Avalons ficam em lagos, mas o cargo da Senhora não é por causa do lago externo, mas do pequeno lago, o espelho d’água usado na prática de Visão. Hoje, Avalon cresce a cada dia. Disfarçadas de colégio interno, os ensinamentos se propagam. As magias são realizadas de acordo com os templos locais, além do culto a Ceridwen. Por exemplo, a Avalon africana ensina a arte mágica típica da África, direcionados ao culto à Deusa.


“Qualquer pessoa que possua ao menos um dom mágico é instruído. É claro que Avalon enriqueceu muito financeiramente, pois ensinando magia, tem seus ensinamentos cobiçados, principalmente pelos filhos de grandes ricaços. Em troca de ensinamentos básicos em magia, recebemos gordas doações em dinheiro. Essas pessoa não saem espalhando os segredos, nem profanado a Deusa. Então, é isso.”


- Acabou? – perguntou James. – E o rei Artur? A Senhora não vai contar a história dele? A verdadeira?

A Senhora do Lago olhou para o Sol e consultou um relógio de bolso antes de responder.

          
          - Não creio que o rei Artur tenha uma história verdadeira ou falsa, mas se vocês quiserem, posso contar a versão mais aceita por Avalon, aquela que não é contada aos quatro ventos. A história que vou contar é baseada nos documentos ocultos, que apenas a Senhora e o Merlin tem acesso. Fontes reais, escritas pelos contemporâneos de Artur. Mas antes, farei uma breve pausa.

Mais trechos em breve...

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